quarta-feira, 20 de junho de 2012

Atividade


1. Por que a autora acha difícil ser entendida se disser que o mês de agosto chega no bido dos sabiás?

2. O choque do eu da cronista com o seu mundo leva-a a fazer o quê?


3. O que constituíam os textos escritos pelos velhos cronistas aos quais se refere a autora?


4. Por que os poetas do século XVIII falavam dos rouxinóis, e não dos sabiás?


5. A que estética literária pertenciam os poetas do século XVIII?

6. Que fato político se associa ao advento do Romantismo no Brasil?


7. Como são caracterizadas as “donzelas românticas”?


8. A autora descreve o ambiente urbano moderno e o ambiente urbano romântico. Que diferenças há entre eles?


9. Os poetas românticos, ao contrário dos árcades que cantavam rouxinóis, celebraram sabiás, aves tipicamente brasileiras. O que se pode depreender (extrair/entender) disso?


10. É um país majestoso
Essa terra de Tupá,
Desd’ o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!”

Entre os elementos de auto-afirmação e orgulho, verdadeiros mitos nacionais do Brasil românticos, quais os que podemos encontrar nos versos anteriores?


11. O espírito romântico, como já observamos, está presente no homem de todas as épocas, antes ou depois do período que compreende a primeira metade do século XIX, em que ele foi tão forte que chegou a configurar um estilo de época. Identifique, entre os itens abaixo, cinco características que revelam um temperamento romântico de Cecília Meireles.
a) realidade encarada naturalmente.
b) culto da natureza.
c) saudosismo.
d) preocupação com a verdade.
e) aspiração por uma realidade agradável.
f) retorno ao passado.
g) preocupações materialistas.
h) evasão (fuga da realidade).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O conde Lopo

Foi poeta: cantou, e o estro em fogo
Crestou-lhe o peito, devorou seus dias
E a febre ardente desbotou-lhe a fronte
Em dores sós, em delirar insano.

Foi poeta: cantou, sonhou: a vida
Canto e sonhos lhe foi. Amor e glória
Com asas brancas viu sorrindo em vôos.
Foi-lhe vida sonhar: e ardentes sonhos
A fronte lhe acenderam, lhe estrelaram
Mágico da existência o firmamento.

Cantou, sonhou-amou:: cantos e sonhos
Em amor converteu-os. De joelhos
Em fundo enlevo ele esperou baixasse
Alguma luz do céu, que amor dissesse-

Anjo ou mulher! embora que ele a amara
C'o fogo queimador que o consumia
Com o amor de poeta que o matava!
Anjo ou mulher-embora! e em longas preces
Noite e dia o esperou-Mísero! Embalde!

Sonhou-amou-cantou: em loucos versos
Evaporou a vida absorta em sonhos-
E debalde! ninguém chorou-lhe os prantos
Que sobre as mortas ilusões já findas
Pálido derramara-
Amou! E um peito

Junto ao seu não ouviu bater consoante
C'os amores do seu! Ninguém amou-o
E nem as mágoas lhe afogou num beijo!
-E morreu sem amor.-Bateu-lhe embalde
O pobre coração em loucas ânsias.
[...]Nunca a mão dele de uma fronte branca
A alva coroa fez cair da virgem-
Jovem, solteiro, sem consórcio d'alma
[...]

E morreu sem amor! E ele contudo
Tinha no peito tanto amor e vida!
Alma de sonhos, tão ardentes, cheia!
E anelante do amor do peito-em outro
Em horas ternas efundir em beijos!

E às vezes quando a fronte pela febre
Pesada e quente sobre as mãos firmava,
Quando esse delirar febril da insônia
Em vertigens travava de sua alma,
Um negro pensamento lhe passava
Como um fuzil no cérebro fervente,
E pensava dos loucos no delírio,
Na escura treva da vertigem tonta!
Temia-a morte não-mas-a loucura.
[...]

AZEVEDO, Álvares de. O conde lopo.
In: Poesias completas
Rio de Janeiro: Ediouro, 1996


Estro: entusiasmo artísticos, gênio criador.
Crestar: queimar, tostar.
Embalde: (sinônimo de debalde); em vão, inutilmente.
Firmamento: céu.
Enlevo: sensação de êxtase, arroubo.
Findas: acabadas.
Consórcio: associação, união.
Anelante: que deseja, que anseia intensamente.
Efundir: derramar(-se).


sábado, 19 de fevereiro de 2011

SABIÁS ROMÂNTICOS

Se eu disser que o mês de agosto chega no bico dos sabiás - quem me vai entender? Quem me vai entender, se eu disser que entre as névoas da manhã, sabiás invisíveis - nas mangueiras? nos ipês? - anunciam o céu azul e o dia mesmo? Ninguém sabe mais o nome das aves. As aves desapareceram com as muralhas de cimento armado, com os fios que cruzam os ares, com a fumaça e os ruídos da cidade hostil.
Os velhos cronistas que viram uma terra diferente, puderam anotar com minuciosas palavras: "... criam-se em árvores baixas, em ninhos, outros pássaros, a que o gentio chama sabiá-oca, que são todos aleonados, muito formosos, os quais cantam muito bem ... " O ouvido do segundo cronista era mais apurado - e ele escrevia: "Outro pássaro se acha, chamado sabiá, da feição do melro de Espanha - e antes cuido que é o próprio, porque canta como eles, sem lhe faltar mais que um dobrete..: " Um terceiro cronista opinava:"... sabiás que chamam "das praias", por andarem sempre nas ribanceiras (onde só cantam), mais que todos suaves."
Não me lembro de ter ouvido esses cantos "mais que todos suaves" entre os versos do século XVIII. Nesse tempo, andavam os poetas ainda muito lembrados dos rouxinóis europeus, e a paisagem brasileira facilmente se confundia com os bosques da Arcádia.
Foi preciso que viessem os românticos, já num Brasil independente, para que, na culta Coimbra, uma voz recordasse os bosques e as várzeas da pátria distante e escrevesse a "Canção do Exílio":

"Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá..."

Os jovens poetas que se seguiram, todos se lembraram do pássaro de voz suave:

"É um país majestoso
Essa terra de Tupá,
Desd' o Amazonas ao Prata
Do Rio Grande ao Pará!
- Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá!"

O sabiá sugeria vozes de anjos mortos, de almas errantes, de gênios da tarde. ("São os sabiás que cantam /nas mangueiras do pomar...")
Chamavam-no "formoso", "sonoro", "poeta da solidão"... Chamaram-no mesmo "alado Anacreonte"...
Isso foi num tempo de mansões, varandas, laranjeiras, mangueiras, quando os poetas conversavam com donzelas líricas e muito frágeis, que lhes diziam: "Nunca mais eu virei, risonha e louca/roubar o ninho ao sabiá choroso"... (Falavam assim, as moças de então!)
Agora vem agosto, nas asas dos sabiás suaves. E eu penso nos velhos cronistas que os descreveram e nos poetas que prestaram atenção ao seu canto: um Gonçalves Dias, um Bernardo Guimarães, um Casimiro de Abreu, um Fagundes Varela, um Castro Alves:... E é como se estivessem comigo, esses poetas, para ouvir, entre mangueiras e ipês, os "chorosos sabiás".

MEIRELES, Cecília. Sabiás românticos. In: ______. O que se diz e o que se entende. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, p. 34-5.

Vocabulário:

aleonado: da cor do leão
Anacreonte: poeta lírico grego
cuidar: imaginar, pensar
gentio: o indígena, o índio
hostil: agressivo, adverso